Uma das peculiaridades de viver na ilha do Bornéu (um dos sítios mais remotos do planeta) é que basta conduzir alguns quilómetros para fora da cidade de Balikpapan para se entrar numa floresta densa onde vivem macacos, lado a lado com outros animais exóticos e tribos dignas do National Geographic!
Como esta zona não é propriamente abundante em indicações, e os mapas e GPS poucas estradas mostram, foi necessário arranjar um motorista para o dia (só os locais conhecem bem os caminhos) e um tradutor de Bahasa Indonésia para Inglês porque os motoristas não são de todo bilingues.
Posto isto, fizemo-nos à estrada! As estradas estão em péssimo estado, pelo que demoramos cerca de 3h para fazer 130km.
A primeira paragem foi na mesquita de Samarinda (ficava a caminho). Particularmente gosto bastante da arquitectura destes edifícios, vistos de longe tem sempre um grande impacto visual. Não entrei na sala de orações, mas tive de me cobrir e descalçar só para andar a tirar fotografias.
De seguida dirigimo-nos à vila de Pampang. Aqui é possível estar em contacto com indivíduos da tribo dos Dayak. Aqueles (do National Geographic) que usam brincos tão pesados que tem orelhas até ao pescoço.
Está comunidade já está habituada a lidar com turistas, mas se viajarmos quase dois dias para o interior da ilha é possível encontrar tribos no seu "habitat natural". Não é aconselhável ir até lá sem alguém que conheça e fale dialecto Dayak, pois estas tribos são conhecidas por serem "headhunters" (caçadores de cabeças), colocando depois os crânios pendurados à porta de casa!
Mesmo ficando só pela zona de turistas foi possível admirar os seus instrumentos de caça e defesa e a sua arte.
A minha pequena "grande" amiga Dayu apresentou-me aos indígenas e estivemos um pouco à conversa. Ainda há conservação de algumas tradições, como a dança ou o artesanato através das gerações mais novas.
Mas como tudo tem um senão, algumas destas pessoas foram já corrompidas pelo poder do dinheiro. A única mulher adulta que vi, exigiu-me uma quantia exorbitante de rúpias para que eu lhe pudesse tirar uma fotografia!!! E ela sim, tinha mesmo orelhas até ao pescoço, carregadinhas de argolas douradas.
Não alinhei no esquema. Se eu cobrasse dinheiro a todas as pessoas que pedem para tirar fotografias comigo aqui na Indonésia já estava rica!!!
A surpresa do dia estava reservada para o final, quando o carro saiu da estrada principal para andar cerca de uma hora em estrada de terra batida até chegarmos à floresta das florestas!
Fechando os olhos por um minuto, pude ouvir pela primeira vez os barulhos da selva: macacos a guinchar, vegetação a mexer misteriosamente, pássaros a atravessar a densa folhagem, algo a arrastar-se pelo chão....
Não era um bom sítio para se passar a noite, por isso avançamos pelo trilho em direcção à Canopy Bridge, ainda com esperança de ver um Orangotango selvagem, mas ainda não foi desta:)
Por entre árvores gigantes e lianas, eis que vemos a construção de madeira de ar muito frágil. A verdadeira ponte à Indiana Jones está estrategicamente colocada a cerca de 30 metros de altura e do topo é possível ver a copa das árvores bem de perto, assim como ter acesso a uma vista panorâmica da selva!
Suei bastante para atravessar a medíocre estrutura de madeira, mas os cabos de aço deram-me alguma confiança!
Tenho noção de que foi das coisas mais arrojadas que eu, Sra. Medricas, já fiz em toda a vida! Senti-me uma verdadeira exploradora:)